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Paróquia Nossa Senhora da Conceição Pacajus - Ceará

Juízo Final, o julgamento dos julgamentos!

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Por: paroquiapacajus

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Minhas preferências na arte cinematográfica sempre foram os suspenses e investigação criminal. Sou fascinado por filmes que envolvem tribunais e julgamentos. Sempre questiono se um julgamento feito por homens, pode ser reto, justo e livre de manipulação e corrupção. Um dos meus preferidos, o Júri, estrelado por John Cusack, Gene Hachman, Dustin Hoffman e Rachel Weisz, conta a história de uma ação judicial movida por uma viúva contra a indústria armamentista e traz uma crítica muito interessante à corrupção e à manipulação de jurados de um tribunal que são fortemente influenciados por um casal do Júri. Registro que na justiça americana é permitido o debate entre os jurados, ao contrário do que ocorre na brasileira.

Outro filme interessante que assisti, uma comédia brasileira, que aborda a moral católica, o Auto da Compadecida, texto de Ariano Suassuna, que simula um Juízo Final, um julgamento no Céu, onde o réu é acusado por Jesus e por Satanás e defendido por Nossa Senhora, sua advogada e foi estrelado por Selton Mello, Matheus Nachtergaele, Fernanda Montenegro.

Diante dos enredos destas obras de ficção, indago se há no mundo, algum tribunal perfeito? Os tribunais são formados pelo juiz, pelas testemunhas, arroladas pela defesa e pela acusação, pelo réu, pelo júri popular (alguns casos) e pelos advogados de defesa e de acusação (promotoria ou procuradoria). Uma mesma pessoa não pode exercer o ofício de juiz, promotor e defesa. O Juiz, iluminado pelas leis é quem julga, procedente ou não, a acusação.

Na Corte Celestial, no entanto, imagino que o juiz, o advogado de defesa e de acusação seja o mesmo, e com certeza, sem risco algum para o réu, uma vez que se trata de um tribunal perfeito, assistido e presidido pelo Justo Juiz, imparcial (Dt 10,17) que aplicará a Lei do Senhor Deus, que é perfeita, que conforta a alma, deleita o coração, ilumina os olhos, como assim se expressa o salmista (Sl 18).

Entretanto, acredito que a perfeição da lei está na sua reta aplicação, logo o que faz a lei perfeita é a perfeição do juízo que a aplica, por isso, no mesmo salmo encontramos referências ao Senhor, justo Juiz, que promove juízos verdadeiros e igualmente justos e retos. A Lei do Senhor Deus é perfeita, sem dúvida. No entanto, quando aplicada por homens limitados e pecadores, pode transforma-se em lei injusta e desumana que transformam, em abusivas, as penas sentenciadas.

Outrora se acreditava que “toda lei fosse um mandato de Deus” (Pr 8,15). Imagino que esse provérbio deva ser interpretado à luz do contexto religioso em que viveu o povo de Deus, num Estado religioso, cujas leis civis eram enraizadas no Decálogo, dada a influência da religião na organização social, política e econômica do povo hebreu.

Podemos aceitar como ordem divina uma Lei de aborto que torna lícito o assassinato de crianças indefesas, e que por força desta legislação, são arrancadas do santuário da vida, o ventre seguro de sua mãe, com três meses de gestação? Claro que não! E o que dizer da lei que quer promover o assassinato(aborto) para qualquer fase da gestação? Não emana de Deus! Hoje nós vivemos num mundo laico, pior ainda, dominado pelo ateísmo, em que Deus e seus mandamentos são ignorados, até mesmo por aqueles que professam a fé cristã, alegando, exatamente, o laicismo do Estado. Apregoa-se que o Estado é laico. Embora se comporte como tal, não é ateu.

Existem grandes diferenças entre o julgamento divino e o dos homens, como a questão da lei e da transgressão, que no caso da moral é o pecado, por isso, quando participamos da Santa Missa, após reconhecermos que nos reunimos em Nome da Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, reconhecemos as nossas culpas, nossos pecados, para dignamente, participarmos do banquete do Senhor que nos alimenta na sua Palavra, no seu sangue e na sua carne, para que tenhamos a vida, pois diz o Senhor: “quem come a minha carne e bebe o meu sangue, viverá eternamente (Jo 6,54). Assim, confessamos: “…Pequei, muitas vezes, por pensamentos e palavras, atos e omissões…”.

Pequei por pensamentos? Mas o pensamento não se torna pecado quando desce ao coração, dominando-o e se concretiza em palavras, dominando também, nossa língua (boca) e depois se converte em atos? Não, para Jesus! Para o Senhor, “comete adultério no coração todo aquele que olhar para uma mulher, cobiçando-a” (Mt 5,48).

Eis a primeira grande diferença entre a lei divina e a lei humana. As leis dos homens julgam as palavras e as ações: por isso, o preso deve ser informado de seus direitos, dentre eles, o de ficar calado na hora da prisão, para evitar que a pessoa, nervosa, diga o que não queria dizer, trazendo prejuízos futuros, uma vez que toda palavra que disser poderá ser usado contra ele no tribunal. Já a lei divina, julga além destas (Mt 12,36-37), o pensamento, porque “o homem ver a face, o Senhor, o coração” (1 Sm 16,7).

Uma vez que a lei divina difere da lei dos homens, assim também diferem as transgressões para os tribunais, pois o crime diverge de pecado. Esta é a segunda grande diferença. Cada crime enseja uma transgressão à lei moral, portanto incorre em pecado contra os Mandamentos, quem comete crime. A recíproca não é verdadeira, ou seja, nem todo pecado incide em um crime, como é o caso do adultério que não figura, como tal, no Código Penal brasileiro, desde 2005.

Uma terceira diferença entre estas duas realidades são a quantidade de leis, enquanto na sociedade observamos um número ilimitado de leis, no campo da moral, são dez leis que o Senhor Jesus as condensou no duplo mandamento do amor, e que, por parecer de difícil obediência, nos cumulou com sua graça para nos fortalecer numa vida reta, longe da criminalidade, ou melhor da prática do pecado. “O que Deus manda, torna-o possível por sua graça” (CIC 2082). Assim, nunca pecaram, o próprio Jesus, fonte da graça e sua Mãe Maria, a cheia da graça divina (Lc 1,28). Esta vida da graça Deus concede a todos para vencerem o inimigo, para isso, sejamos constantes nas orações, fujamos da ociosidade, ocupemo-nos dos estudos das escrituras.

Os mandamentos do Senhor foram pensados e revelados por Deus para nos garantir a vida: “Se queres entrar na vida, guarda os mandamentos” (Mt 19,17). O pecado atinge não somente o corpo, a vida segunda a carne, mas sobretudo, a vida da alma, a vida espiritual da graça divina. O Julgamento Final poderá nos restituir a vida eterna da graça, aquela que fomos privados pelo pecado, quando decidimos em nosso coração, desobedecer às leis de Deus.

A razão da Lei do Senhor ser perfeita reside no fato de ser enraizada no amor de Deus e do próximo e não em teorias e vãs filosofias, pois o “amor é o vínculo da perfeição” (Cl 3,14) entre a lei e o legislador, e também, “… o pleno cumprimento da lei” (Rm 13,10).

Conforme as Tábuas da Lei, o amor a Deus se faz em três observações: “Não terás outro Deus diante de mim” (Ex 20,3); “não tomarás o Nome do Senhor teu Deus em vão” (Ex 20,7) e “lembrarás de santificar o dia de sábado” (Ex 20,8). Ou seja, reconhecer que há um só Deus, honrá-lo e nele descansar. Para nós cristãos, o domingo é o dia do Senhor, dia de orações para fugir da servidão do pecado, sendo permitido trabalhar, somente em caso de necessidade, utilidade da Igreja e bem do próximo. Não é um dia para divertimento e brincadeiras, a ponto de Santo Agostinho dizer: “Neste dia arar é menos grave do que brincar”.

O amor ao próximo se faz em sete observações: começa com a honra de quem é mais próximo de nós, honrar pai e mãe(Ex 20,12), não fazer-lhe nenhum mal; depois de proibir o homicídio, não matar(Ex 20,13), proíbe o adultério, que atinte a nossa própria carne, assim proíbe injúria contra a própria pessoa e contra o cônjuge, não cometer adultério (Ex 20,14); em seguida, proíbe atos contra os bens, não furtar (Ex 20,15); proíbe injúrias com palavras e maus pensamentos, não testemunhar falsamente (Ex 20,16), e por fim, proíbe cobiçar os bens e a mulher do próximo, não cobiçar os bens, nem a mulher do próximo (Ex 20,17).

Uma quarta diferença, o crime é classificado em doloso(grave), onde há a intenção ou culposo(venial), onde não há intenção. Já no pecado, seja venial ou grave, sempre há a intenção. Contra o pecado, assim rezamos no Pai Nosso, “não nos deixeis cair em tentação”. Para isso, não deixemos que o pecado nos atinja. Caso sejamos atingido por ele, não permitamos que permaneça por longo tempo, recorramos ao Sacramento da Penitência, pois o Senhor diz: “Entra em acordo com o teu adversário, enquanto caminhas com ele, para que não te entregue ao juiz”(Mt 5,24). Confessarmo-nos, oportunamente, impede que o pecado dos maus pensamentos domine o nosso coração, que se rebelará em nós, em atos e palavras, pois a “boca fala do que o coração está cheio” (Mt 12,34) e o que a boca dita, o corpo pratica.

Pensemos nisso! Existem pecados que somente são vencidos mediante a oração e o jejum (Mt 17,20). Entre nosso espírito e nossa carne, há uma luta contínua, um combate (Gl 5), que nos levará à Corte Celestial, ao julgamento final. “Se queres que o espírito vença, auxilia-o pela oração e debilita tua carne pelo jejum” (Santo Agostinho). Ademais, o Juízo Final será feito sobre a prática do amor (Mt 25,31-46), por isso, ama e não tema o julgamento!

Paz e bem!
Jaires Pinheiro